Eu, como em quase tudo na minha vida, tentei planejar minha gestação da melhor forma. Há cerca de dois anos, tinha certeza que teria um parto vindo de uma “desnecesária” e até já imaginava como seria. Bem, a minha mãe teve duas filhas de cesariana e sobreviveu a elas, então, para que sentir dor desnecessariamente?
Tudo mudou quando conheci minha grande amiga, Marina Guerra, ser que modificou minha forma de enxergar a vinda do meu filho ao mundo. Ela me apresentou o parto humanizado e todo o sentimento e transformação que ele proporcionaria para nós. Ela me indicou o grande separador de águas, o filme, O renascimento do parto, e a partir desse momento tive a certeza do que eu, meu filho e meu companheiro, marido e amigo, Filipe Carnib, precisávamos vivenciar para trazer nosso filho da forma mais respeitosa e natural possível.
Eu tinha desde o início muito medo da dor e olhem que esse sentimento foi até o momento de entrar em trabalho de parto e poder conhecê-la de perto. Para meu marido, também não era fácil, mas ele me escutou e se empoderou junto comigo nesse mundo encantador e transformador do parto humanizado. Gostaria de destacar que Filipe tinha repúdio de hospital, sangue e as demais coisas, contudo, fomos trabalhando, assistindo vídeos e eu repassando para ele todas as informações e vantagens para nós e nosso futuro filho e assim ele aceitou e passou a ser mais um defensor do parto humanizado, junto a todos aqueles que, por falta de conhecimento, eu acredito, não aceitam de forma tranquila esse modo de nascer. Ninguém acreditava que ele encararia de forma tão positiva o nosso parto, diziam “Filipe vai desmaiar. Não é justo que você imponha isso a ele…”
Antes de me liberar para engravidar, procurei, indicado por Marina, Dr. Thiago Saraiva, um médico ímpar, que desde o início nos incentivou no parto humanizado e me disse que eu poderia. Como um mestre, acolhendo e empoderando, assim meu querido obstetra se manteve junto a mim. Com sua paciência e gentileza, respondendo minhas dúvidas pelo WhatsApp com seu sempre “relaxa” (rsrsrs)…
Mesmo apesar de estudar muito e participar dos grupos de incentivo ao empoderamento e parto humanizado, eu tinha receio porque meu quadril é “estreito” e escutava de algumas pessoas: “Ah, será difícil um bebezão passar”, visto que nas ultras meu pequeno estava com percentil acima da média, como também: “Meu Deus! Quanta coragem! ”.
Nessa jornada conheci Mariana Bahia, doula escolhida por mim e, novamente, com a ajuda de Marina. Essa profissional nos direcionou e nos ratificou sobre a importância do parto humanizado, revelando a verdade: parir dói, mas você, como natureza, terá força suficiente para encará-la. Ela trará seu filho. Ademais, me mostrou a importância da preparação com estudos para o puerpério, pois esse sim, durará muito mais que aquelas “POUCAS” horas do parto.
Gente, uma vez, lendo nos grupos, vi um texto muito importante que dizia que as pessoas que estarão presentes no seu parto serão determinantes para o sucesso ou fracasso dele e a partir daí descobri quem deveria estar nesse dia tão transformador: Eu e Filipe. Combinamos que só avisaríamos a todos (com exceção da minha irmã, Rebecka Carvalho), após o nascimento. Muitos se mostraram contra e até ficaram chateados. Lembro da minha grande e eterna amiga, minha mãe, que não aceitava, pois ela queria dividir esse momento comigo. Por mais triste que eu ficasse em não tê-la ao meu lado, fazia isso para o bem dela e de todos nós, pois sabia que no auge da dor, ela não conseguiria me ver em tanto sofrimento. Tudo que eu precisaria naquele momento era de pessoas que não tivessem pena de mim, mas que acreditassem na força da natureza, me incentivando a ir em frente, dizendo que eu poderia.
No dia 02/07/2016, com 38 semanas e 3 dias de gestação, por volta de uma hora da madrugada, enquanto dormíamos, minha bolsa estourou. Acordei pensando que talvez fosse xixi, mas ao levantar, caiu mais água e assim confirmamos que era o momento da nossa luz chegar. De imediato, tremi, acho que de medo da dor, da responsabilidade, do encontro… foram tantos sentimentos, mas com a calma e a tranquilidade do meu companheiro de todas as horas, me reequilibrei. Mandamos mensagens para Mariana, que estava num parto com Dr. Thiago, e o avisou do processo. Nesse momento, nada de dor, então era hora de ajeitar os cabelos, fazendo uma escovinha e aproveitando para cortar as unhas que estavam grandinhas. Guardamos as malas no carro e ficamos na espera da dor. Ela chegou por volta das três horas da manhã, de mansinho, porém, frequente. Sua intensidade foi aumentando, e eu não tinha posição ao menos um pouco confortável para ficar. Filipe, com toda paciência e amor, foi monitorando cada uma das contrações e me auxiliando com massagens e banhos quentes. As idas ao banheiro eram frequentes. Como a natureza é sábia, ela esvaziou totalmente meu intestino. A água da bolsa, aos poucos, ainda ia saindo.
Às 10 horas da manhã, quando as contrações estavam na média de 4 em 4 minutos, alertamos Mariana e ligamos para Dr. Thiago, que nos aconselhou a irmos procurá-lo no hospital que estava de plantão, e, ao chegarmos, por volta das 11 horas e 30 minutos, ele atenciosamente nos recebeu e deu um toque. Lá estava eu com 5 para 6 cm de dilatação. Ele pediu que fossemos para o Hospital o qual escolhemos para a chegada do nosso bebê. Na espera da liberação do quarto, ficamos na emergência e lá fomos recebidos por uma simpática e gentil médica que deu outro toque e viu que eu já estava com 8 cm de dilatação. De imediato, ela ligou para Dr. Thiago e o alertou. Dentro de pouco tempo, já estavam todos presentes, minha escolhida doula, Mariana Bahia, minha muito mais que fotógrafa, Nathália Monte, e toda equipe de excelentes e amorosos profissionais.
As dores só aumentavam e tornavam-se mais frequentes. Acho que entrei na partolândia, momento que fechei meus olhos e naquele instante me identifiquei como sou: pura natureza e instinto. As dores surgiam como uma montanha russa, vinham de leve e se intensificavam, chegando ao seu auge e depois amenizando, até sumir. Chega então o momento da fraqueza, as dores, tão temidas por mim, estavam me acovardando e eu pedi, não, eu implorei analgesia. Mariana e Dr. Thiago, já em conformidade com o meu plano de parto, sabiam do que eu realmente queria e assim me direcionaram para aquele momento. Dr. Thiago pediu para dar mais um toque e assim veria se realmente eu necessitaria de uma analgesia e com muito sufoco consegui sair da piscina e ele constatou que eu já estava com dilatação total. Naquele momento eu não precisava mais de analgesia, mas sim, como Mariana me disse, no auge do meu desespero, olhando para mim: “Flor, você está indo de encontro as suas contrações, e não é assim, você precisa ir ao encontro delas, que trarão seu filho ao mundo.” Oh palavras sábias e vindas de Deus! Me foquei na dor e na força que o momento exigia. Sim, foi muita força, algo que jamais pensei que teria. Naquele momento, eu era um puro animal, embalado pelos instintos. E, apesar de tudo, acreditem, eu ainda tive coragem de perguntar a Dr. Thiago se realmente Lucas conseguiria sair (rsrsrs)… Oh, cultura violenta.
Logo depois, veio o círculo de fogo, e olhem que é fogo mesmo, parece que um abacaxi está saindo de dentro de você (rsrsrs)… mas o mais impressionante é sentir a cabecinha do meu pequeno nascendo e logo em seguida, com mais uma contração, ele surge por inteiro, às 15 horas e 37 minutos, com 3.505 kg e 49 cm, para mim, para o nós, para o mundo. Lucas nasceu sem intervenção médica e eu, contrariando todo o sistema, terminei com períneo íntegro, sem qualquer necessidade de pontos.
Eu fui a primeira a pegá-lo e ao olhá-lo, só tinha vontade de sorrir e agradecer por demais a Deus e a espiritualidade que me auxiliaram desde sempre e me permitiram gerar e colocar no mundo um ser saudável e iluminado.
Após a saída dele e depois de curti-lo por alguns minutos, cortando o cordão da placenta, lá se vem outra contração e com mais uma força nasce a placenta, tão linda e importante durante toda a gestação para meu filho. Nesse momento, Lucas foi examinado e assistido por Dr. Reginaldo, que naturalmente não utilizou qualquer procedimento invasivo como nitrato de prata e/ou aspiração, e tão logo empoderou meu marido no corte do cordão umbilical, e assim, Filipe, venceu mais uma barreira, mostrando que o pai pode participar ativamente do parto e que, quem nasce não é só acriança, mas os três: pai, mãe e filho.
Gente, após o parto, com meu filho nos braços e saudável, eu me sentia, naquele exato momento, a mulher maravilha, eu era uma nova Alinne, agora mãe de Lucas, empoderada e sabendo que eu sei parir e meu filho sabe nascer.
No fim, o que ficou registrado no meu coração é que o parto é algo entre você, Deus e a natureza. Se entregue e permita vivenciar essa transformação e grande oportunidade de amadurecimento e aprendizagem.
Só tenho a agradecer a todos que me incentivaram e participaram, cada um da sua forma, do momento mais especial e mágico da minha vida.
Filho, que você possa saber de cada detalhe vivenciado por nós, nesse grande momento de te acolher aqui, no plano terrestre, da forma que seus pais entenderam ser a melhor e mais respeitosa para você.
Lucas, seja luz e amor para o mundo, retribuindo a Deus toda oportunidade fornecida por Ele.