Bom.. pensei que nunca ia conseguir escrever sobre isso. Vamos ao meu histórico. Tive minha primeira filha com 19 anos, em 1999. Nenhuma ou muito pouca informação. Eu queria parto normal. Fiz ioga..tive incentivo dos meus pais. Entrei em trabalho de parto prematuro com 32 semanas. Fiz corticoide intramuscular, repouso absoluto. Entrei novamente em trabalho de parto com 37 semanas. Cheguei ao Hospital com 7 para 8 cm de dilatação. Contracoes a cada 2 ou 3 minutos. Pensando que ia ser a coisa mais simples e natural do mundo. A médica fez um toque.. pegou no nariz de Letícia. Já veio dizendo que seria impossível o parto normal e que eu teria que ir imediatamente para uma cesariana pelos riscos pra mim e pra minha neném. Entrei na sala do bloco como quem ia pra forca. Ainda me lembro do meu pânico. Letícia fez uma TTRN.. nasceu 00:18h de 27/11/99. Ficou na UTI até de manhã. Acordei perguntando por ela antes das 5h da manhã. A imagem ficou na minha cabeça até hoje. Minha neném linda e rosa no meio de um monte de bebes prematuros. Eu nem sabia o que era TTRN. Mas achei que ela estava bem pra estar ali. Minha tia me ajudou a amamentar.. e recebemos alta da UTI na mesma manha.
Passaram quase 13 anos.. 29 de outubro de 2012. Estava grávida de Alice. Gravidez planejada, sonhada. Eu ainda achando que era possível e natural parir. Mas não me preparei emocionalmente. Botei na cabeça que seria um parto rápido. Cheguei a sonhar que nem daria tempo ir pro hospital. No dia 28 à tarde, por volta de 16:30h, começaram contrações ritmadas. Fui avaliada pela médica.. 4 a 5 cm de dilatação. Pensei comigo.. até amanhecer o dia estarei com minha Alice nos bracos. Fiquei internada.. contrações até a tarde do dia 29 de outubro e nada de progredir o trabalho de parto. Fiquei com muito medo. Partimos para uma cesariana. Entro novamente na sala frustrada. Com mais medo de tudo. Alice não veio direto para os meus bracos, ficou mais de 2h no berco aquecido (até hoje não sei ao certo o motivo já que o APGAR era 9-10). Meu Pai e Saulo entraram comigo. Fiquei com Saulo o tempo todo e ele sempre relata que quase não viu Alice nascer. Graças a Deus Painho entrou e tirou fotos do parto.. me deu um suporte enorme. A mim e a Saulo. A presença dele (como sempre) foi fundamental. Estava profundamente insegura. Fiquei muito mal. Chorei por dias. Meu sonho de parir desmoronou. A estadia no Hospital foi tenebrosa. Muito barulho. Relacionamento ruim com as médicas. Eu me fazendo de forte e arrasada por dentro. Pensando que não sabia se um dia iria engravidar novamente e que a minha chance de viver tudo de tao lindo que todo mundo relata estava encerrada.
Passados 3 anos e 3 meses estava eu novamente naquele Hospital. Mal podia acreditar que tive coragem de engravidar novamente. 09 de fevereiro de 2016, uma terca de carnaval, dia do frevo. Nada poderia evocar tanta alegria. Eu estava com 39s5d. Cecília já dava sinais que queria nascer há cerca de 15 dias. Gravidez planejada, tudo bem mais favorável. Escolhi Thiago para ser meu médico. Dessa vez tinha que ser diferente. Fui atrás de mais informações, tive uma doula maravilhosa, Julia Morim. Assisti o Renascimento do Parto (como eu chorei nesse filme). Estava bem confiante. Gravidez de baixo risco (como as outras duas). Feliz da vida.. mais madura.. 35 anos. Eu tinha muita certeza que ia dar certo. Mas Cecília fez tudo diferente. Acordei no dia 09 com uma secreção não identificada (por mim). Mostrei a Saulo.. que já percebeu do que se tratava e me falou pra ligar pra Thiago. Assim o fiz. Thiago pediu pra me examinar. Fui para o Hospital das Clínicas na terca de manha com Saulo. Detalhe: ele estaria de plantão nesse dia a tarde e desde o inicio da gravidez eu tinha medo que ela nascesse nesta data pela dificuldade que seria para ele sair do plantão por ser uma terca de carnaval. O plantão dele seria em Olinda. Imagina a dificuldade para arrumar alguém e para que essa pessoa chegasse lá. Ao chegar no HC, Thiago foi bem claro: a secreção era mecônio e eu não estava com quase nada de dilatação. Seria muito complicado mundo caiu. Eu lembro que a minha vontade era de ficar sozinha. Não queria ninguém perto de mim tamanho era meu medo que alguma coisa acontecesse com Cecília. Não queria ninguém. Não queria falar. Meu sonho de parir tinha acabado ( eu não pretendia nem pretendo ter o quarto filho). Era esta a realidade e eu teria que aceitar.Lembro bem que eu estava em jejum e Thiago falou que eu passasse rapidamente em casa para pegar minhas coisas e ir para o Hospital. Fui novamente como quem ia pra forca. Sem falar muito. Muito triste. A todo momento me perguntando pq eu não merecia parir pelo menos 1 das minhas 3 meninas. Chegamos no Hospital. Lembro bem de Reginaldo entrando no quarto e me dizendo que se fosse possível me entregaria Cecília. A esta altura eu nem lembrava mais do plano de parto. Pensei que nem a doula seria mais importante.. nem fotografa.. nem nada. Eu estava achando um pesadelo tudo aquilo. So queria minha Cecilia bem. Nada mais importava. Eu já pensava que ia ser aquela tortura de novo. Toda amarrada. Sem ver minha neném. Toda aquela angústia que gira em torno.. assim como os outros 2 partos. Entro na sala com menos medo. Já sem expectativas. Sabia que era muito ruim. Eu estava ali só por Cecilia e coberta de medo de não poder nem olhar pra ela direito. Lembrei de todas as vezes que vi SAM evoluir mal. Eu pedi com todas as minhas forcas a Deus que aquilo não acontecesse com minha Cecilia. Entra Thiago no meio dos meus pensamentos dizendo: eita.. que clima de enterro é esse. Cecília tem direito a música. E colocou várias músicas lindas pra tocar.
Não fiquei amarrada. No decorrer da cirurgia ele falou comigo várias vezes. Eu não me senti sozinha nem um minuto. Saulo ficou comigo. Desta vez Painho ficou com as outras 2 meninas. E isso novamente foi essencial para que eu pudesse me concentrar em Cecília. Nunca tive tanto medo na vida. Júlia não foi embora. Apesar dela ter percebido toda minha frustração. Ela segurou minha mao. Ficou comigo o tempo todo. Ela e Saulo chamaram a fotografa. Nasce Cecília. Linda.. fofa.. a maior das 3. Chorando forte de abalar o coração de qualquer pessoa. Thiago abaixou os campos. Eu vi tudo. Jamais esquecerei essa emoção. Ela veio toda sujinha de mecônio para os meus bracos. Beijei e abracei minha neném. Dei aquela checada de sempre.. se tava tudo bem. Olhei a respiração dela. Mal podia acreditar. Chorei copiosamente no parto. E dessa vez foi de felicidade. Pela forma respeitosa e amorosa que ela nasceu. Saulo cortou o cordão umbilical. Nada foi feito na minha fofa sem minha presença. Ela não saiu de perto de mim um segundo. Digo sempre a Thiago e a Reginaldo. Todas as bencaos dos céus são merecidas para o que eles proporcionaram a mim nesse dia redentor. Não tive o meu sonhado parto normal. Mas tive o meu parto possível e seguro. Hoje tenho minhas 3 filhas amadas e nenhum arrependimento. Fiz e faco por elas o meu melhor.. sempre. Obrigada, Thiago. Você arrasa. Nossa família sera sempre grata pelo seu amor e respeito.