Assim como prometido à algumas pessoas, compartilho aqui o meu relato do parto de Bela, onde também comento um pouco sobre o de Artur, que foi o início de toda nossa história.  <3

Não poderia iniciar o meu relato do parto de Bela (24/03/16) sem antes falar um pouco do parto de Artur (09/02/15).

Assim que descobri que estava grávida de Artur, o parto foi uma das minhas principais “preocupações”. Eu sabia que queria um parto normal mas eu jamais sabia que dentro dessa escolha existiam várias vertentes. E eu só descobri cada uma delas porque Mariana Bahia, uma grande amiga, estava iniciando a admirável trajetória dela como Doula e ativista do parto humanizado.

Foi ela quem abriu meus olhos para a realidade atual do nosso sistema obstétrico e também foi ela que abriu meu coração para um novo caminho e uma nova possibilidade de ter o meu sonhado parto normal com segurança e respeito à mim e ao meu bebê.

Eu e Rafa nos informamos bastante, líamos muito, enchíamos o obstetra de perguntas (Dr Renato), frequentamos os grupos, assistimos diversos vídeos de parto e, juntos, ficávamos imaginando como seria o de Artur (se eu ia aguentar a dor, se Rafa ia ficar muito nervoso, se eu ia ficar introspectiva, se ia querer músicas, massagens etc).

Foram meses de planejamento e fortalecimento, até que com 32 semanas soubemos que Artur estava pélvico (sentado). Depois dessa informação levamos um banho de água fria e passamos a ler sobre as evidências científicas de um parto normal pélvico (que Mari nos mandava). Será que eu sigo com o meu plano de parto normal? E se acontecer algum problema com o bebê eu vou bancar a minha decisão ou vou me culpar para o resto da vida? Acho que eu me culparia. É, definitivamente eu me culparia.

Então vamos fazer assim: caso ele não vire (haja exercícios e acupunturas!), entrarei em trabalho de parto e farei uma cesárea. Equipe toda avisada, então vamos aguardar.

Na ultra de 39 semanas descobrimos que Artur estava com mais de 4kg, o que me tiraria da margem de segurança de um parto normal pélvico, então essa informação acabou fazendo com que eu fosse para a cesárea ainda mais confiante da minha decisão.

Com 41 semanas Artur nos avisou que estava pronto para vir ao mundo e ele foi recebido exatamente como tinha que ser. Essa era a história dele. A nossa história. Dia 09/02/15 vivemos juntos o melhor dia de nossas vidas.

Quando Artur estava com mais ou menos 5 meses comecei a sentir um sono fora do normal e um sentimento esquisito dentro de mim. “Rafa, to me sentindo estranha, vou fazer um teste de gravidez para descartar essa possibilidade”. Descartar? Há-Há-Há. Peguei o teste e vi que estava com 2 meses de gravidez. Ficamos em estado de choque. Desespero. Socorro!

Como assim outro bebê? E agora? Ainda no laboratório liguei para o meu então obstetra e disse: tenho um babado fortíssimo para contar. Estou grávida e no momento estou desesperada. Precisamos nos ver urgentemente e quero saber se existe a possibilidade de um parto normal após uma cesárea tão recente ( 13 meses de diferença). O que ele disse foi: Que rápidos, isso foi saudade de mim? Parabéns! Claro que existe, nem se preocupe, marque uma consulta para conversarmos.

Pronto, era real. Eu estava grávida de novo e já tinha recebido o primeiro Parabéns. Agora precisava me recompor para começar a reestruturar nossa vida. E dentre muitas resoluções, havia uma importantíssima: o parto. Quanto a isso, a primeira coisa a fazer era acionar a nossa querida Doula novamente. Contamos pra ela. Passado o estado de choque que ela também ficou (afinal, além de doula é amiga há mais de 15 anos), vamos começar a entender todas as questões referentes a um VBAC (Vaginal Birth After Cesarean) tão recente. Seriam 13 meses de diferença entre a cesárea de Artur e o possível parto normal de Bela.

Quando comecei a ler sobre os possíveis riscos (fosse o parto cesárea ou normal), tomei a primeira importante decisão: para eu me sentir mais segura, o parto teria que acontecer em um hospital diferente do que foi o de Artur (que era um hospital mais simples) e isso implicaria em mudar a equipe médica. Mari entrou em ação e me indicou Dr Thiago Cesar Parente Saraiva. Fomos, e como era de se esperar, foi amor à primeira consulta. Competente, atencioso, seguro, explicativo, calmo, organizado, argumentos baseado em evidências científicas.Eu precisava daquela segurança para me fortalecer ainda mais. E assim foi o nosso relacionamento durante toda a gestação. Ele me passava segurança, eu engolia informações, Mari me enchia de arquivos científicos, os grupos do facebook me encorajavam, os relatos de amigas próximas também e o principal: eu ignorava (mesmo!) todo e qualquer comentário negativo vindo de pessoas que eu sabia que estavam falando sem nenhuma propriedade. Quando chegou o momento de escrever meu plano de parto eu tomei 3 decisões importantes: não queria tomar anestesia (para não correr o risco de necessitar de outras intervenções), não queria parir na banheira (eu tinha isso na minha cabeça sabe-se lá porque) e não queria ficar horas em casa antes de ir para o hospital (como eu tenho um bebê de apenas 1 ano eu não me sentia confortável com a possibilidade de ficar em casa sentindo as contrações, vocalizando e correndo o risco de acordar ou aperriar Artur. Tinha receio de ficar preocupada com ele e travar). Todos entenderam e respeitaram as minhas vontades, então agora era só esperar a pequena dizer que estava pronta para vir alegrar ainda mais nossas vidas.

Na Quarta Feira, 23/03, eu e Rafa colocamos Artur para dormir como de costume e ficamos na cama conversando. Eu não sentia absolutamente nada, tanto que horas antes tinha dito para a minha sogra não cancelar a viagem dela para SP, pois Bela só ia nascer depois da Semana Santa (ainda arrisquei dia 2/04). Conversa vai, conversa vem, eis que de repente senti uma colicazinha. Passou. Colicazinha de novo. Passou. “Rafa, por via das dúvidas, marca ai no aplicativo, por favor”. Começamos a marcar. Intervalos de 10min entre uma e outra e duração de mais ou menos 1 minuto. Avisei a Mari e combinamos que se o padrão mudasse eu ligaria.

Após 40 minutos com intervalo de 10 em 10, diminuiu para 5 em 5 e mais rapidamente para 2 em 2. Tudo isso em 1h30. Rafa avisou a Mari e combinamos de ir para o hospital. Mas perai! E Artur? Liga para mainha! Desligado. Liga para Silvana (a babá dele). Desligado. Insiste, insiste! Nada. Foi ai que vi meu marido louco, nervoso, sem conseguir completar 1 frase. Eu rapidamente disse, entre uma contração e outra: se acalme, se recomponha e resolve essa situação pelo amor de Deus. Eis que ele conseguiu falar com a minha sogra e ela chegou em 10min. Foi ela chegando e a gente indo correndo para o hospital.

As contrações no carro foram horríveis. Quando a contração ia embora, eu gritava: Corre! Corre! Corre! Ai a contração vinha e eu dizia: Devagar, Rafaeeeeel!!! PQP que sacanagem!

Tipo assim, bem incoerente.

Chegamos no Santa Joana 23h30. Rafael parou o carro na emergência e foi dar entrada nas papeladas. Eu estava me achando tranquila para ficar sozinha e descer do carro, até que quando eu desci veio outra contração e eu só consegui pensar que o chão seria um ótimo aliado. Sentei ali mesmo, me apoiei na fechadura do carro e fiquei esperando aquela passar.

Passou e eu segui até a recepção. A moça queria me encaminhar para o plantonista me avaliar e eu disse que não, que era paciente de Dr Thiago e esperaria por ele. Nem acabei e frase e vi Thiago. Meus olhos devem ter brilhado. Logo depois apareceu Mari. Mais brilhos ainda. E em seguida Yane (amiga e fotógrafa) e Mainha. Pronto, todos que eu desejei para aquele momento estavam lá. Fomos para a salinha de repouso. Thiago fez o toque e disse que eu estava com 4cm e que o colo estava fino, o que era um ótimo sinal. Fiquei otimista e pensei que, mais uma vez, ele tinha o dom de me fortalecer.

O plano demorou um pouco para liberar o nosso quarto então ficamos por volta de 1h nessa salinha. No intervalo das contrações eu ainda conseguia interagir, perguntava a Mari algumas coisas, abraçava Rafa, dizia o que eu tava sentindo, pedia (ou reclamava rs) de alguma coisa e assim o tempo ia passando.

Assim que subimos para o quarto Mari me encaminhou para o chuveiro e ela e Thiago começaram a preparar o quarto, encher a banheira etc. Fiquei deitada no box do banheiro curtindo aquela água quente deliciosa. Por mim eu ficava ali para sempre.

Quando Mari encheu a banheira ela veio conversar comigo para saber se eu queria tentar ficar lá. Lembro que relutei um pouco porque o chuveiro tava bom demais mas fui. Fui e adorei. Agradeci por eles terem me proporcionado aquilo.

A essa altura as contrações estavam ficando mais fortes e eu repetia para mim mesma como um mantra: “a cada contração ela está mais perto de mim. Essa contração daqui a pouco passa e eu vou ter momentos de alívio”. Esse pensamento esteve comigo em todos os momentos do parto, foi o que me deu forças para seguir com o meu plano de não pedir anestesia e de não descompensar com a dor que estava sentindo.

Nos intervalos das contrações eu sentia um sono absurdo, mal conseguia ficar com o olho aberto e perguntava à Mari e a Thiago se aquilo era normal. “Normalissimo, fique tranquila”.

Por volta das 2h30 comecei a sentir uma vontade grande de fazer o número 2 (eu achava que era isso rs) e disse à Mari, que na mesma hora chamou Thiago para me avaliar. Feito o segundo toque, veio a excelente notícia: “você está com 10cm e essa vontade de fazer força que você está sentindo é porque você está entrando na fase do expulsivo. Faça força quando tiver vontade. Você pretende ficar na banheira? Sim! Daqui eu não saio (contrariando meu plano de parto).

Nesse momento Thiago e Mari sugeriram a posição de 4 apoios e foi ótimo. Rafa ficou na minha frente segurando a minha mão e fazendo carinho. Mari e Thiago me ajudavam com a respiração e com palavras de motivação que foram essenciais naquele momento. Mainha colocando a mangueira nas minhas costas e cabeça, o que me fazia relaxar bastante nos intervalos das contrações. Mesmo não querendo muito papo com as pessoas (fiquei bem introspectiva), me senti amada e muito bem cuidada durante todos os momentos do parto.

Veio mais uma contração e a vontade de fazer força era enorme. Vontade de realmente colocar algo para fora. Fiz e muita! Gritei com vontade. Quando passou, coloquei a mão lá embaixo e toquei no que eu achei que fosse um coágulo. Achei que tava tendo uma hemorragia e fiquei tensa. ”Thiago, estou com um coágulo saindo de mim”. E ele calmamente me responde: “ É a sua bolsa que ainda não estourou, Gabi”. “Aiii… Será que ela vem empelicada?”

Fiquei encantada com a possibilidade.

Nesse momento alguém comentou que estava muito perto dela nascer então pedi para Rafa ficar atrás de mim, junto com Thiago, Regi (neo super competente e querido demais), Mainha e Yane, para ver quando ela nascesse. Mari ficou na minha frente e na última contração do expulsivo foi a mão dela que eu quase quebrei. Senti o “famoso” círculo de fogo com muita intensidade, queimava tudo e coloquei a maior força que eu encontrei dentro de mim. De repente, quando eu vi, lá estava Bela, na água, vindo em minha direção. A bolsa estourou quando ela saiu. Inacreditável. Sensação inigualável. Senti paz. Senti amor. Senti realização. Vontade de grudar na minha pequena para sempre. Olhei para Rafa sem acreditar que tínhamos conseguido. Foi lindo demais. A dor que eu senti nas ultimas 5h tinha ido embora completamente e dentro de mim só existia felicidade e a vontade de agradecer. Agradecer pela saúde de Bela, por ter dito discernimento para fazer a escolha certa (mesmo com tantos comentários contrários à minha decisão), a Deus por ter me dado tanta força, à Rafael Drummond pelo apoio, amor, carinho e companheirismo de sempre, à Mariana Bahia por ter me dado a oportunidade da informação e por ser tão tolerante, à Thiago Cesar Parente Saraiva pela segurança, pelos cuidados, pela competência, pelos esclarecimentos e pela paciência, à Reginaldo Freire por cuidar tão bem das nossas preciosidades no parto e no acompanhamento pós parto também, à mainha Ana Lúcia Carneiro Leão por ser minha melhor amiga e incentivadora (bichinha desmaiou de emoção quando Bela nasceu hahaha) e a Nane Yane Hacker pelas fotos lindas e pela amizade da vida toda. Obrigada todos vocês por me ajudarem a viver o dia mais intenso e emocionante da minha vida.

Espero que esse relato ajude outras pessoas que, assim como eu, estão em busca de um VBAC com cesárea recente (no meu caso 13 meses) ou que buscam simplesmente um parto com respeito e segurança.