Três meses de Dora e só agora consigo parar para pensar e escrever meu relato de parto.

Lembro que quando estava grávida ia atrás de todos os relatos de parto, e os que mais me tocavam eram os que as mães tinham planejado tudo para um parto normal e acabaram numa cesárea.

Hoje acho que os relatos que saem do planejado são os mais necessários, por isso escrevo aqui.

Na maior parte das vezes que li esses relatos pensei que haviam sido cesáreas desnecessárias, que essas mulheres tinham sido enganadas e tinham tido o seu parto roubado.

Ficava aliviada, pois sabia que estava nas mãos da melhor equipe. Com um GO humanizado (@Thiago Cesar Parente Saraiva) que respeitava todas as minhas escolhas e uma doula (Mariana Bahia) a quem eu confiava todas as minhas dúvidas e me cobria de informações o tempo todo, ambos sempre tão disponíveis.

Tive uma gestação super tranquila. Eu era daquelas que às vezes até queria inventar alguma problema só pra não ficar me gabando da falta de enjôos, da pressão normal, de ter ganho pouco peso, de conseguir trabalhar até o final sem muito cansaço, sem nenhum inchaço.

Só na 28 semana uma coisa veio me preocupar um pouco: minha bebê estava pélvica. Mas até então eu estava certa de que ela viraria sozinha, e caso não virasse eu teria meu parto humanizado pélvico mesmo. Eu pouco sabia sobre parto pélvico e menos ainda sobre a Versão Cefálica Externa (VCE). Foi quando já com 36 semanas, após vários dias de exercícios da Naolí, pilates, moxabustão, fisioterapia, música e lanterna na barriga e cambalhotas na piscina, constatamos que ela continuava pélvica e foi aí que Thiago me sugeriu a tal VCE.

Minha primeira reação foi querer estudar e me informar, pois os vídeos que eu já tinha visto me deixaram aflita. Depois de conversar com marido (Bruno Farache) e doula, decidi que iria fazer. Que era mais uma tentativa, e que iria dar certo. Afinal, era um procedimento simples e indicado pela OMS.

Thiago, incrível que só ele, mandou conversar com uma paciente dele que tentou uma VCE mas entrou em trabalho de parto na sala mesmo e precisou de uma cesárea. Quantos médicos diriam a sua paciente para procurar um caso que havia acontecido justamente o que você mais temia?

Isso faz parte do protagonismo da mulher com que ele tanto se preocupa. Nos manter informadas sobre todos os riscos é a nossa maior arma de empoderamento!

Continuando, Renata Morais de Santana (nunca vou poder agradecer a sua força!) me encorajou e disse que sentia muito orgulho de ter se submetido à VCE.

Sabemos que mães sabem parir (mas também se não parir tá tudo bem, pessoal!) e bebês pélvicos também podem vir ao mundo de forma natural. Mas é fato que um parto pélvico é mais raro e precisa de uma equipe especializada nisso e que abrace essa causa, lembro de Thiago me falando: “se você topar um parto pélvico, eu também topo! Estou com você!”.

Mas estudando sobre o assunto, vi importância de tentar uma VCE antes de um parto pélvico ou uma cesárea eletiva, essa última era uma opção que não existia pra mim. Após decidir que me submeteria à VCE, fizemos mais uma ultra onde Thais Silva e Thiago observaram que eu tinha um ótimo bolsão de LA, o que facilitava a virada do bebê.

Na data marcada, dia que completei 37 semanas de gestação (tempo ideal para tentar a VCE) estava eu no hospital santa joana e com a equipe super completa. A VCE foi realizada com dois obstetras (Viviane Pontes Medeiros querida <3), enfermeiras, minha doula, anestesista (Alexandre Dubeux), nosso pediatra neonatal (Reginaldo Freire) e com a máquina de ultra-som na sala, como a gente tinha pedido!

Essa disponibilidade e respeito de todos eles para um simples procedimento me fez muito feliz! Como me senti acolhida naquele dia! Parecia que minha vontade em ter meu parto normal podia mover todos aqueles profissionais em busca de um só propósito <3

Tanto que a VCE foi um sucesso! Na terceira tentativa Dora virou, fizemos a ultra na sala e ela estava cefálica! Os batimentos estavam ótimos (os dela e os meus) e eu me sentia muito bem. Thiago já havia pedido para que eu dormisse no hospital, pois eu poderia sentir algum incômodo e estando lá eu não me assustaria. Dormi e no outro dia ele me deu alta. Vida normal, trabalho e últimos preparativos, na certeza que o dia de conhecer minha filha estava próximo. Dois dias depois, no dia 10 de junho (dia do aniversário da minha mãe), durante uma reunião de trabalho, sinto uma mexida muito forte com uma leve dorzinha, fiquei até com medo que ela tivesse dado uma “cambalhota” e ficado pélvica novamente (algo possível de acontecer). Logo depois, um jato, e logo depois outro jato bem maior. Jato que só vi que era de sangue depois. Até ali eu não poderia imaginar que Dora iria chegar.

Liguei pro marido e ele logo falou “acho que a gente vai conhecer Dora hoje”.

Nesse momento minha cabeça deu um nó. “Esse sangue poderia ser o tampão? Nunca vi em relato algum ser tanto sangue assim. Será que eu estou em trabalho de parto? Mas não estou sentindo dor nenhuma. Minha barriga está dura. Vou conseguir meu parto normal? Será que isso é indicativo de cesárea? Capaz de não ser nada e eu alertei todo mundo à toa”. Marina, melhor amiga-irmã-sócia, que nesse momento dirigia meu carro o mais rápido possível rumo ao Hospital, lembrou: “cadê a playlist de Dora? Coloca aí!” Eu nunca imaginei que ela fosse lembrar disso (obrigada por isso, amiga!).

Pronto, fomos ouvindo a playlist que eu tinha feito com tanto carinho (segundo o marido, foi a parte que eu mais me dediquei hahaha), Milton e Caetano já conseguiam me deixar um pouco mais calma e eu já conseguia imaginar, sem tanto medo, que o dia de conhecer minha filha tinha mesmo chegado.

Chegamos ao hospital, Thiago foi me buscar no estacionamento. Olhou a quantidade de sangue e soltou: “consegue correr?”. Fomos pra maca onde ele me examinou e vi, pela primeira vez, ele nervoso. Tudo isso porque ele estava ouvindo os batimentos cardíacos normais de Dora, mas eu não conseguia ouvir e ele queria que eu ouvisse para poder me acalmar.

Nesse momento ele me explicou que não poderíamos esperar o trabalho de parto, havia ocorrido um descolamento parcial da placenta, e teríamos que fazer uma cesárea. Ele tão preocupado em me explicar com detalhes para que eu não me frustrasse e eu nesse momento só queria ver a carinha dela,era só o que importava naquele momento.

E, na real, depois de vê-lo na minha frente, eu estava tranquila, pois tinha a certeza absoluta e plena confiança de que entraria numa cesárea por necessidade, eu não estava sendo enganada, não estava fazendo uma cirurgia por conveniência, não estava tendo meu parto roubado, eu havia tentado de todas as formas. Eu sabia disso.

Entramos na sala de cirurgia e foi aí que pude ver e sentir a diferença de uma equipe humanizada. <3

Por favor, você gestante que está lendo, não pense que uma equipe humanizada só vale a pena se seu parto for natural! A melhor sensação que pode haver para nós, sobretudo nesse momento tão especial, é o respeito e o acolhimento que profissionais humanizados te oferecem em qualquer situação.

Na hora que cheguei à sala de cirurgia toda a equipe já me esperava, a mesma que estava comigo na VCE, a mesma que já me conhecia, já havia me acolhido, já sabia a minha história e sabia que o nome do serzinho que estava chegando era Dora. Não era o nascimento de mais um bebê qualquer, era o nascimento de Dora, filha de Lia.

Lembro de Thiago segurando minha mão bem forte e de me acalmar enquanto tomava a anestesia, garantindo que ia ficar tudo bem.

Lembro depois de Mari segurando minha mão direita (“vai dar tudo certo”) e Buí (marido e companheiro de todas as horas e consultas, mais assustado que eu, com um olhão quase saindo do rosto) minha mão esquerda, sem conseguir falar absolutamente nada. Lembro de, mesmo na emergência, Thiago ter o cuidado de perguntar se eu estava com frio, desligar o ar condicionado, diminuir as luzes, deixar meus braços soltos, e de ter colocado música pra tocar (a minha playlist ficou no carro, logo ela!). Lembro também de estar tudo pronto para começar e meu marido não ter chegado, e Thiago sair para ligar pra ele porque sem ele não começaria.

Tudo isso aconteceu em menos de 40min, do minuto que saí correndo da reunião ao segundo que vi Dora na minha frente pela primeira vez. Linda, bochechuda e quente (meu útero deve ser um forno, eu juro que a primeira imagem que tenho dela é ela fumaçando!).

Após Thiago e Vivi narrarem todos os passos da cirurgia, Dora chegou e veio direto para mim, Reginaldo colocou imediatamente no meu peito e ela mamou! Essa sensação não dá para descrever, vou pular.

Nenhuma intervenção desnecessária foi feita, sem nitrato de prata, sem aspiração, sem banho (nunca imaginei que o vernix fosse tão cheiroso). Ela chegou, veio pra mim, mamou em meus braços suja mesmo. Vernix, sangue e líquido amniótico (haja ocitocina!), e foi com Reginaldo e o pai apenas para ser medida, examinada e tomou a vitamina K, e do meu lado não saiu um segundo sequer dentro do hospital.

E sim, nasceu no dia mais especial que poderia, dia do aniversário da minha rainha, minha mãe incrível Cristina Tavares <3

Até hoje não sabia se o termo humanizado pode ser aplicado a uma cirurgia como a cesárea, agora já acho que sim. Mas respeitosa sim, com certeza. E a minha foi muito! Eu faria tudo exatamente igual, e fico muito orgulhosa da história que nós (eu e Dora) traçamos juntas.

Hoje, 3 meses depois, não há frustração, não há arrependimentos. A aventura da maternidade é bem maior do que o parto que planejamos, que sonhamos. Nesses 3 meses eu só penso que sabia que queria ter filhos, eu não sabia se queria ser mãe. Ser mãe é exaustivamente incrível.

Obrigada Thiago, Mari Bahia, Reginaldo Freire, Vivi, Thaís, Alexandre Dubeux, jamais vou esquecer da sorte que tive em encontrar vocês para dividir esse momento. Já disse e vou repetir: vindo pelas mãos de vocês, eu topo ter mais 10 filhos!

Ah, é claro que eu prestei atenção nas músicas que estavam tocando, e no minuto que vi Dora pela primeira vez, tocava essa música: