Relato de parto é o tipo de experiência que você não sabe por onde começar. São tantas coisas e tantas emoções que a gente tenta traduzir, mas que na verdade não cabe em palavras. Mas vamos tentar! Tinha sido uma semana difícil aquela última de julho de 2016. Eu tava já bem cansada e emocionalmente abalada por causa de uma paralisia facial que chegou de surpresa às 36 semanas. Mas algo me dizia que eu devia preparar tudo, o grande dia estava chegando!! Se eu estava ansiosa? Não, não tava. Não tive tempo! (Rsrsrs). Pois então, resolvemos passar aquele último fds de julho num flat em gravata pra eu relaxar um pouco e tentar esquecer aquela paralisia. Na volta, aquele estalo: vamos pegar as coisas dele que estão nas casas da minha mãe e cunhada, pq talvez aquela seria a última oportunidade! Pegamos parte do enxoval, devidamente limpo e passado, e levamos pra casa no domingo. Terça feira, mandei buscar o restante. Quarta feira, dia 27, Flavio me convida pra almoçar fora, porque, segundo ele, talvez não pudéssemos fazer isso nem tão cedo! Como ele adivinhou? Até hoje não sei… rsrsrs… só sei que saímos pra um almoço espetacular e pra completar, fomos dar aquele costumeiro passeio no shopping. Por onde eu andava, me arrastando a essa altura do campeonato , todos me perguntavam: é pra quando? E eu respondia: previsto pra 07/08, mas acho que dessa semana não passa. Nessa hora sempre me perguntavam: vai ser normal?? Simmm!! E seguia aquela velha máxima: corajosa!!! Como assim!? Pra mim, coragem era enfrentar uma anestesia e uma cirurgia desnecessária pra trazer meu filho ao mundo! Eu tinha na ponta da língua todos os argumentos pra defender que meu filho iria nascer por via natural, no tempo dele, sem pressa, sem intervenções desnecessárias, com muito respeito e eu queria estar plena naquele momento pra recebê-lo em meus braços. E tinha muita tranquilidade em aceitar uma cesárea desde que fosse necessária! Ouvi muitas críticas, julgamentos, até mesmo palavras duras e de desânimo. Ouvi muito que era uma irresponsabilidade e um capricho desnecessário “insistir” num parto normal, botando em risco a vida do meu bebe! Oi!? Desde quando parir virou um evento super arriscado!? Desde quando deixou de ser um evento natural!? Ouvi histórias horríveis. Cada um que chegava tinha um caso mal sucedido com desfecho trágico pra me contar. Ficava impressionada com a “torcida contra” da maioria das pessoas. Elas tentavam gratuitamente me convencer de que “em pleno século 21” com tanta tecnologia, era uma loucura uma mulher querer sentir dor pra ter filho! Que não era nada natural sentir aquela dor terrível. Além de toda carga física e emocional de uma gestação, ainda tive que aprender a lidar com isso! Pra me sentir confiante, li tudo o que pude sobre parto ativo, humanizado, me preparei física e emocionalmente, busquei uma equipe que me fizesse sentir segura quando chegasse a hora. Consegui o apoio da pessoa mais importante pra mim naquele momento, meu marido. Assistir o Renascimento do Parto foi essencial. Não precisou muito e Flávio já estava convencido. Me deu total apoio e isso pra mim bastava!
Pois bem, naquele dia 26/07 cheguei em casa as 18h, onde mais uma sessão de fisioterapia me aguardava. A sessão demorou quase 1,5h. Jantei umas 19:40. Às 20, um vizinho cabeleireiro chegou pra cortar meu cabelo. Eu tinha dito pra ele mais cedo: traz a tesoura, pq não quero ir pra maternidade de cabelão. Agora eu que estava adivinhando!? então, a essa altura já eram 9 e pouca da noite, quando eu, insatisfeita com o esforço do dia, achei pouco e decidi arrumar o quarto do nosso Antonio! isso mesmo. Não havia NADA arrumado. O colchão do berço ainda tava no plástico, e sobre ele um monte de fraldas, enxoval e outras muitas coisas. Vamo lá! Arrumei tudo, coloquei tudo no seu devido lugar, preparei a mala da maternidade (é, eu deixei pra ultima hora messsmo, só não sabia que essas seriam literalmente as ultimas horas!). Por fim, arrumei o bercinho, o ninho do nosso filhote. Tudo pronto, hora de descansar. Banho e cama à 01:00 da madruga! Às 04:40, uma colicazinha me faz despertar, levanto e vou ao banheiro. A dor passa, volto pra cama. Poucos minutos depois, a dor volta, e a vontade de ir ao banheiro também. Era a natureza fazendo seu trabalho, esvaziei o intestino dessa vez. E já voltei pra cama cismada, a dor passara de novo. Liguei o cronômetro. Três minutos e a dor voltou, não tive mais dúvidas. Minha intuição não falhou, era chegada a hora, nosso menininho ia nascer!!! Que emoção! E que doooorrrr!! Como assim, contração já de 3 em 3 minutos? Cadê os pródromos, a fase latente que dura horas, dias até!? E cadê a bolsa que não estourou!? A dor só aumentava e eu não tive tempo nem de raciocinar muito. Ligamos pra Thiagão, que com aquela tranquilidade que é só dele, nos mandou ir para o hospital. As contrações vinham com tudo, a cada 3 min, cada vez mais fortes!! Foi o tempo de tomar um banho, descer as malas, que haviam sido arrumadas horas antes (!!) e partir pro hospital. As contrações não davam trégua, uma atras da outra. Nosso trajeto pro hospital foi cena de novela, com marido queimando sinal e pedindo passagem: meu filho vai nascer! Rsrsrs chegamos às 7:00 no hospital. Ficamos no quarto esperando a equipe chegar, eu na bola suiça, debaixo do chuveiro, e Flavio comigo, segurando minhas mãos a cada contração, me abraçando, me dando aquela sensação de segurança que qualquer mulher precisa nessa hora. Ele não cansa de me surpreender, porque achava que ele não aguentaria me ver naquele “sofrimento”. Ele, que não podia me ver franzir a testa, foi minha fortaleza naquela hora! Não saiu do meu lado um segundo sequer. Se antes eu o amava e admirava, essa admiração só aumentou naquele dia! Ele foi meu porto seguro, estava ali de corpo e alma comigo, o tempo todo, vivendo com a mesma intensidade que eu aquele momento! Nunca conseguirei agradecer a Deus por ter me presenteado com um companheiro tão especial!
Thiagão chegou, fez o primeiro toque e me perguntou com quantos cm de dilatação eu achava que estava. Eu: pela intensidade da dor, uns 6… Ele: 8 pra 9. Hã? 8 pra 9!?? Oxe, então, parir é moleza! Já já ele nasce! Tranquilo, aguento de boa essa dor. Quanta inocência! Kkkkkk A dor só aumentava e a cada contração que vinha, me perguntava: cadê ele!? Pq ele não vem? Ainda no chuveiro, Thiago avisa que minha mãe chegou e pergunta se queroque ela entre. Eu deixo ela entrar, ela me vê, me dá uma palavra de coragem e sai. Não queria ela no quarto, pois sei que ela acabaria me deixando mais ansiosa e talvez insegura. Saímos do chuveiro e fomos pra cama. A essa altura toda a equipe estava lá. Passei umas duas horas (eu acho, pq já tinha perdido a noção das horas fazia tempo!) em cima da cama, de joelhos e com os braços apoiados na bola. Flavio ao meu lado, todo o tempo. Thiago a minha frente, segurava forte minhas mãos a cada contração. Estava cansada. Mais uma contração, e mais uma, e mais outra, e nada. Porque ele não nasce!? Não aguento mais! Chorei! Por mais preparada que eu estivesse pra viver tudo isso, a hora da covardia tava chegando! Nessa hora, Vivi (Viviane Medeiros) com aquela voz suave de anjo sussurra no meu ouvido: calma, Deise. Ele tá pertinho, já já ele chega. Ele não pode vir muito rápido, se não vai lhe machucar! Que voz calmante foi aquela!? Até hoje lembro bem! A essa hora, a bolsa ainda íntegra, Thiagão me pergunta se quero que ele rompa pra acelerar o processo. A possibilidade de multiplicar aquela dor me fez negar a oferta. Dez minutos depois, ela rompe espontaneamente. Agora tá perto, não é possível!! Eu estou exausta daquela posição. Decidimos descer. Espera, lá vem mais uma! Passou… ufa!! Desce agora, não, pera, mais uma, calma! Arrrrrrggg! Nossa, não tem intervalo mais não!? Que dooooorrrr! Não aguento mais! Num intervalo, descemos pra banqueta rapidamente. Não tínhamos armado a piscina pois o quarto que eu estava não tinha espaço. Agora estava eu sentada na banqueta de parto, Flavio à minha frente, Vivi atras de mim com sua voz de anjo, segurando minhas mãos. De repente sinto uma ardência muito forte, queimando! Né que o tal círculo de fogo existe mesmo!?? E não teria nome mais apropriado pra ele! Rsrsrs Era ele vindo com tudo! Sinto uma vontade incontrolável de fazer força e uma pressão muito forte! Numa última e inesquecivelmente dolorosa contração, a cabecinha passou, e logo em seguida Flávio pega nos braços aquele serzinho indefeso a quem chamamos de filho!! Antônio chegava ao mundo ao meio dia de 28/07/16. Na horinha dele, quando estava pronto, da forma mais natural e respeitosa possível, sendo recebido com muito amor, pelas mãos do papai! Naquele momento nos olhamos, nos reconhecemos, nos encontramos!! Não consigo descrever em palavras a emoção daquele momento! Quanta adrenalina! A dor deu lugar a um mar de amor! Pura ocitocina transbordando! De longe, a maior emoção das nossas vidas, a experiência mais intensa e transformadora! Foram 7 horas e meia de um trabalho de parto ativo e respeitoso. Humanizado. Onde eu fui a protagonista! Eu trouxe meu filho ao mundo!! Eu pari! Com todo apoio , respeito e retaguarda de uma equipe maravilhosa! Nunca vou esquecer a tranquilidade e gentileza de Thiagão, que em meio a tanta dor conseguiu arrancar tantos sorrisos meus, e me deu a segurança que eu precisava para viver aquele momento. Como agradecer!? Pelo resto da vida serei grata! A Viviane Medeiros também, que com sua voz suave e seu jeito sereno me transmitia a calma que eu precisava naquelas longas horas de espera. A Reginaldo Freire, que cuidou com tanto carinho e respeito do nosso filhotinho nas suas primeiras horas de vida! À anestesista que, mesmo sem ter sido acionada, esteve lá o tempo todo, para o caso de eu precisar ou querer analgesia. Minha gratidão eterna a essa equipe sensacional! Deus os abençoe!!
Agradeço a todos que me apoiaram na minha decisão e entenderam meus motivos. Que respeitaram meu desejo e me deram a mão no momento mais importante da minha vida. Em especial ao meu marido, que me fez sentir ainda mais amada e protegida, e que até hoje tem se revelado um pai excepcional pro nosso pequeno! Minha admiração eterna! Gratidão a Deus por me permitir ser mãe e pela oportunidade de vivenciar essa experiência transformadora. Pra vida toda vou guardar a lembrança daquele dia lindo em que meu filho nasceu e eu nasci como mãe.