Sempre tive em mente, que quando engravidasse meu filho nasceria através de uma cesárea. Tinha pavor de parto normal. Achava aquilo primitivo. Todas as amigas que foram mãe, tiveram seus filhos através da cesárea e para mim essa era a forma “natural”. Até que em 2012 minha irmã Claudia engravidou. O pós-parto dela foi horrível. Traumático. E aquilo meio que me traumatizou também. Quando comecei a planejar ser mãe, comecei também a procurar informação sobre o parto natural. Por indicação, assistimos ao filme O Renascimento do Parto.

Esse filme abriu um novo caminho, na verdade um caminho que não conhecíamos. Nem estava grávida, nem sabia se isso ia acontecer logo, a única certeza que tinha era que meu filho nasceria da forma mais natural possível. Depois daí a busca era de um médico humanizado. E que por indicação da minha irmã Claudia, que também planejava engravidar, conheci Dr Thiago Saraiva. Pronto! Não quis nem ir atrás de outro. Era ele! Meses depois estava grávida. Meu marido Rafael, desde o começo esteve do meu lado, respeitou minha decisão e embarcou comigo. Sem ele não teria conseguido. Fui atrás de informação, li alguns artigos científicos, relatos de parto nem se fala.. me emocionei na maioria deles e não via a hora de passar por aquilo. A frase que mais escutei ao longo da minha gestação foi “nossa, como você é corajosa”.

E a minha resposta era sempre a mesma: “Corajosa é quem escolhe cesárea”. Eu confesso que estava curiosa para conhecer a tal “pior dor do mundo”. Queria passar por aquilo, ter a experiência de parir. De trazer meu filho ao mundo na hora que ele quisesse, da forma mais natural possível e que meu marido o amparasse em seus braços. Sentir aquela dor de vida, de nascimento, sentir a explosão de sentimentos e hormônios que eu tanto lia nos relatos. As semanas iam passando e a ansiedade só aumentava. Depois da 38° semana, comecei a sentir os prodomos. Ficava feliz porque achava que a hora estava chegando. Já me sentia pesada, cansada e muito ansiosa. Essa ansiedade me matava. Não dormia mais. Se não estivesse com a cabeça ocupada, só pensava no parto. Ficava imaginando como seria. Meu Obstetra me dizia sempre nas consultas que a ansiedade só atrapalhava, mas como lidar com ela?! Mais 3 semanas e nada. Quando completei as 41 semanas, conversei com Mari, minha doula e ela indicou acupuntura e falou também do chá da Noeli. Conheci Maiana, que também é doula e faz a acupuntura para indução do parto. Pense numa pessoa tranquila, transmite uma paz, uma confiança, tudo que eu estava precisando naquele momento. Tomei o chá, fiz duas sessões de acupuntura e descolamento de membrana. Fizemos tudo o que podíamos para que eu entrasse em TP. Já estava decidido que se com 41+6 Felipe não desce sinais iríamos induzir, afinal não podíamos mais esperar. Induzir era a última coisa que eu queria. Aliás, não pensei nisso ao longo da gestação e por isso não tinha informação. Só sabia que as contrações podiam ser mais dolorosas. Só!

Eu completava 42 semanas num domingo e na noite da sexta para sábado, senti várias contrações ritmadas… achei que ia engrenar e nada! O sábado dia 30/04, era o dia da internação e lá fomos nós. As 8 da noite, Dr Thiago chegou para fazer a indução. Agora era só aguardar o remédio fazer efeito. Não sabíamos nem se essa primeira dose seria suficiente. Quase 11 da noite comecei a sentir as primeiras contrações. Fomos acompanhando e logo foram se intensificando. Quase 1h da manhã, Rafael ligou para Dr Thiago e pediu que fosse pra lá, pois já estava sentido dor e com intervalos bem pequenos. Lembro até de ter levado uma bronca dele, porque não havia dormido. Mas dormi como? Eu já não ficava mais deitada, a melhor posição era agachada. Rafael avisou Mari e Camilla. Quando Dr Thiago chegou fizemos o primeiro toque e eu já estava com 6 cm de dilatação. Ótima notícia! Estava evoluindo rápido. Depois disso, perdi a noção do tempo. Quando Mari chegou eu já estava dentro do banheiro, curtindo minhas dores que ainda eram bem suportáveis. Vocalizar era comigo mesmo. Era como se a dor fosse embora. O chuveiro quente não estava confortável e ficamos no quarto, aguardando Mari encher a Bola de Pilates. Sentia náuseas. Vomitei. O quarto já estava escuro, música ao fundo escolhida por nós.. ambiente acolhedor. As contrações eram cada vez mais fortes e quase sem intervalos. Eu queria a piscina, queria logo entrar nela. Testamos a bola de pilates no chuveiro, mas não gostei. Piscina montada, entrei e Mari com a mangueira foi enchendo, molhando minha barriga. Rafael ficou atrás de mim, segurando minhas mãos. Dr. Thiago, sentado na minha frente, parecia que estava assistindo a sessão da tarde.. rsrsrs.. A água quente realmente aliviava bastante as dores. Acho que passei quase 5 horas dentro da piscina. Eu conseguia conversar entre uma contração e outra, conseguia curtir o momento. Tudo estava sob controle, até que as contrações começaram a ficar muuuuito mais fortes e sem nenhum intervalo. Vomitei de novo, e de novo… Vomitar no meio de uma contração é desesperador. Eu não conseguia mais controlar nada. A respiração estava irregular, eu não vocalizava mais, eu uivava. Gritava com toda a minha força. Fico agora imaginando como uma mulher consegue parir sem gritar! Impossível! Por várias vezes pensei em pedir analgesia mas pensava comigo mesma que ia conseguir, que a dor era suportável. Lembro que olhei pra janela e vi que já estava claro. Putz, o tempo passou rápido. O último toque que Dr Thiago fez viu que eu estava com 8 cm de dilatação. Meu Deus, 8??? Não ia aguentar mais. O desespero ia se aproximando. Perdi totalmente o controle da situação. Olhava para meu marido e via a cara dele de pena. Mesmo assim, ele me dava palavras de incentivo o tempo todo. Dizia que eu ia conseguir. Que já estava bem perto, assim como Mari, Dr Thiago e Dra Vivi. Todos tentando me ajudar. Comecei a sentir uma vontade louca de fazer força. A dor já tomava parte da minha lombar e barriga inteira. Eu sentia Felipe descer. O tempo foi passando e nada.

Comecei então a achar que não ia conseguir. O desespero chegou valendo e foi aí que comecei a pedir analgesia. Não aguentava mais. As contrações eram intensas e sem intervalo algum.. sentia dor o tempo todo. Não conseguia descansar. Não conseguia respirar. Não tinha mais posição! Sai da banheira, fiquei no chão, cadeira, cama.. e nada. Outro toque e Dr. Thiago disse que faltava pouco! Passei muito tempo implorando por analgesia e toda equipe tentando me convencer que já estava bem perto. Eu mesma consegui tocar e sentir que Felipe estava a caminho, mas cada minuto de dor pra mim era como se fosse uma eternidade! Eu estava exausta. Foi quando disse a Mari que eu não queria mais, que ia ficar traumatizada. Implorei analgesia… Ok! Vamos para o bloco cirúrgico.. Eu só ficava pensando em como seria para me controlar na hora da analgesia, pois teria que ficar imóvel e relaxada! Achava que não ia conseguir. Tirei forças não sei de onde e me mantive firme. Acho que essa foi a parte mais difícil. Tinha que ficar sentada, relaxada e sentido aquela dor insuportável, para que o anestesista não errasse. Pronto! Depois da analgesia, as dores começaram a diminuir. Nossa, que alivio! Santo anestesista, como brincou meu marido. Sentia apenas umas cólicas bem fracas. Ficamos ainda quase 1 hora e meia esperando até que Felipe deu sinais que estava chegando.

Comecei a sentir o famoso círculo de fogo. A dor estava voltando, mas eu estava certa que duraria pouco. Em duas contrações Felipe nasceu. A sensação de sentir ele deslizando para fora do meu corpo é maravilhosa. Rafael o amparou em suas mãos e depois ele veio para meus braços. Os olhos estavam bem abertos me olhando, parecia que me reconhecia. O choro me trouxe um alívio. Não acreditava que tinha conseguido. Meu filho nasceu saudável, dia 01/05/16 às 8:35 da manhã, através de um parto normal induzido as 42 semanas de gestação, pesando 3,530 kg e 52 cm, rodeado de pessoas boas, de pessoas humanas, que conseguiram mesmo com toda a intervenção, transformar aquele dia o mais importante da minha vida. Meu filho ficou no meu colo, pude sentir seu cheiro, analisar cada pedacinho do seu corpo. O cordão só foi cortado minutos depois pelo pai. Só tenho a agradecer a equipe maravilhosa que encontrei, a minha Doula fantástica Mariana Bahia, a Dra. Vivi, ao anestesista Alexandre Dubeux, à Camilla, que conseguiu registrar esse momento lindo, ao meu marido Rafael Galindo Leite que com sua calma, me tranquilizou e me apoiou e a Dr. Thiago Cesar Parente Saraiva que existam mais médicos no mundo iguais a ele.
Agradeço também à minha irmã Claudia Chaud e a amiga Roberta Lobo Cunha, que passaram por experiências parecidas e que me serviram de inspiração. A lição que tiro disso tudo é que não mandamos em absolutamente nada e as vezes intervir é necessário. Meu parto não foi como idealizei, porém, foi único e maravilhoso. Pode parecer loucura, mas sinto saudades daquele dia, de tudo que senti. Passaria mil vezes por tudo aquilo de novo.