Sempre tive vontade de passar minha experiência para outras mulheres que optaram pelo mesmo tipo de parto. Assim como me informei e li muito a respeito do parto, espero poder acrescentar um pouco mais de informação a quem ainda irá passar pelo processo do parto normal, humanizado.
Quando eu descobri que estava grávida, pensei logo no parto. Acreditem! rsrs E me veio a vontade de ter parto normal. Não me agradava muito a ideia de fazer uma cirurgia para ter meu bebê. Então, comecei a ler a respeito dos tipos de parto. Evaldo, meu marido, foi à livraria Cultura e trouxe um documentário sobre o assunto, intitulado “O renascimento do parto”, e um livro chamado “Quando o corpo consente”. O primeiro, indicado pelo atendente da livraria, e o outro, por uma colega minha. Começamos a assistir o documentário e, imaginem, eu com 5 semanas de gestação, hormônio a flor da pele, super emotiva, foi choro na certa. Achei emocionante os depoimentos e, quando comecei a pesquisar na internet sobre parto normal, tive a certeza que era aquilo que queria para mim e para o meu bebê. Foi quando comecei a conhecer o parto humanizado e não tive dúvidas de qual seria a minha escolha. A mulher ser respeitada em todos os sentidos!
Então, comecei a procurar sobre médicos, aqui em Recife, que fazem o parto normal humanizado. Li muitos relatos e recebi algumas indicações. Uma delas foi o Dr. Thiago Saraiva, ou Thiagão. Então, marcamos para ele.
Na primeira consulta, ele explicou as mudanças que ocorreriam em meu corpo e os cuidados que eu deveria ter durante a gestação. Fez um cronograma com os exames necessários, de acordo com cada período gestacional. Falamos sobre o parto, nos explicou que era muito importante lermos sobre o processo do trabalho de parto, as fases, lermos também relatos de outras mulheres que optaram por essa via. Comentou que, quando temos informação sobre o que iremos passar, torna-se mais fácil o processo, ficamos mais seguras. Falou também sobre a importância do acompanhamento com uma doula. Que quando as mesmas estão presentes, a chance do parto terminar em cesárea diminui bastante. Não me indicou nenhum nome, porque acredita que a escolha tem que ser da mulher, até mesmo porque será uma pessoa que estará muito próxima a nós, num momento íntimo. Tem que ter empatia.
Saímos da primeira consulta confiantes e seguros da nossa escolha. Eu já o conhecia, mas Evaldo não. Gostou muito. Também como não gostar? Um médico tão atencioso, seguro, que tirou todas as nossas dúvidas e nos explicava tudo com tanta clareza. Uma pessoa leve, do bem. E foi assim durante toda a minha gestação. Sempre que havia medo, insegurança ou dúvida, ele nos explicava e saíamos aliviados.
Sobre a doula, li alguns relatos. Conversei com algumas e escolhi contratar a Mariana Bahia. Realmente, a escolha envolve principalmente a empatia. Gostei muito dela. Tínhamos a mesma opinião sobre alguns assuntos. Sem radicalismo, respeitando nosso corpo e nossa mente. Com “Mari”, nos encontramos duas vezes. Ela nos explicou sobre o trabalho de parto, amamentação e puerpério. Enviou-me alguns artigos para leitura e vídeos. Orientou-me sobre o plano de parto. Eu e Evaldo fizemos direitinho o dever de casa. rsrs
Com 36 semanas, meu plano de parto já estava pronto. Enviei para Thiago e Mari. Fomos à consulta com Dr. Reginaldo Freire, o neonatologista. Valeu a pena demais a consulta, não apenas para conhecê-lo, mas também para nos explicar sobre os mitos e verdades que cercam o nascimento e o recém nascido. Chegamos lá com nossa listinha de perguntas, sobre os primeiros procedimentos necessários para nossa filha, o que realmente precisaria ser feito e ele nos esclareceu cada detalhe.
Com 37 sem., fomos realizar o exame de ultrassom, com a Dra. Thaís. Clara estava bem encaixada.
Com 38 sem., fomos à consulta semanal com Thiago. Íamos sempre às quintas-feiras, na virada da semana gestacional. Estava tudo caminhando bem e eu super ansiosa. Lembro que Thiago brincou comigo. Disse para eu controlar minha ansiedade, pois Clara só ia chegar no Carnaval, para a maternidade estar bem vazia, só pra a gente.
Então, no final de semana, com 38 sem. e 2 dias, senti uma forte dor na região do útero, que irradiava para a região lombar. Como se fosse uma cólica forte. Mari estava viajando, fazendo um curso. Falei com ela e com a sua back up, Camila, que ficou em alerta. Embora achassem que seriam apenas contrações de treinamento. Essas cólicas se repetiram umas 4 vezes durante a noite, mas depois cessaram.
Dia 22/02/17, uma quarta-feira, já estava com 38 sem. e 7 dias. Almocei na casa de minha mãe e fui dar uma cochilada. Quando deitei, senti uma cólica e minha barriga ficou bem redondinha, como uma melancia. Mainha brincou comigo: “Eita, que Clarinha tá querendo sair”. Fiquei mais um tempo deitada e, depois, a dor se repetiu. Então, vi a hora e comecei a marcar.
Eu havia baixado um app que Mari nos indicou, chamado “Contrações”. Fui fazer depilação e, lá, senti novamente as contrações. O intervalo entre elas havia sido de 46 min. Fui para casa e, no caminho, lá veio novamente, a mesma dor. O intervalo, em relação à última, foi de exatamente de 46 min. Mandei uma mensagem para Mari e ela comentou que o intervalo ainda era muito grande, e que mais pareciam ser pródromos. Então, cheguei em casa e tomei um banho. Fui jantar com Evaldo, comi quase nada, pois não estava com fome. Deitei para assistir um DVD de Friends, para tentar tirar o foco. Ansiedade enorme!!!
Evaldo tinha ido para a academia e eu fiquei em casa sozinha. O intervalo entre as contrações começava a diminuir. Agora, elas vinham a cada 25 min. Deu-me uma cólica e uma vontade de ir ao banheiro. Tive diarreia e cólicas umas três vezes. E, por volta das 20h30, a intensidade só aumentava e, agora, eram a cada 15 min. Falei com Mari e ela disse que ainda poderia demorar, e que eu aproveitasse para descansar. Então, resolvemos organizar as coisas. Conferi a nossa mala, a de Clara já estava fechada. Separamos os lanches, os itens solicitados pela doula, o bebê conforto. Evaldo levou para o carro. Estava tudo pronto. Evaldo sugeriu que deitássemos para descansar. Fomos para cama, e quem disse que eu conseguia fechar o olho?! As dores voltavam mais fortes com duração de 30 a 40 segundos, e agora os intervalos estavam de 12 min. Mari sugeriu que eu fosse para o chuveiro quente, pra aliviar as dores. Realmente aliviaram, mas não deixaram de vir.
Por volta das 0h30, as dores estavam vindo de 5 em 5 min. Falamos com Mari e ela perguntou se eu queria que ela viesse nos encontrar em casa. Evaldo ligou para Thiago, ele pediu para mandarmos os intervalos das contrações. Depois nos pediu para encaminharmos ao hospital, e lá nos encontraríamos. Combinamos com Mari de nos encontrarmos no Santa Joana.
Nos arrumamos e saímos de casa. Cheguei ao hospital por volta das 01h20. Mari, com a carinha cansada acho que havia chegado de outro parto, veio me receber no carro. Quando a vi, falei: “Mari está doendo muito”. E ela me respondeu: “eu sei nega, vamos andando devagar que Thiago já esta chegando”. Evaldo deu entrada na urgência. Fomos para a sala de espera, onde se faz a triagem. O médico plantonista aguardou Thiago chegar para ele mesmo me examinar, como eu queria. Depois de alguns minutos, Thiago chegou, me examinou (eu sempre tive medo desse bendito “toque”, mas acreditem, não senti absolutamente nenhuma dor) e disse que eu estava com 4 cm de dilatação e o colo bem fino. Então, subimos para o quarto. Como era uma quinta feira antes do carnaval, a maternidade estava lotada. Não havia disponibilidade de quartos no sexto andar, ou seja, não poderíamos montar a banheira, como eu havia planejado. Mas nem tudo que planejamos depende de nós, e isso foi uma delas.
Nos instalamos no quarto.. Mari sugeriu que eu deitasse pra descansar mas preferi ficar embaixo do chuveiro. Me aliviava muito. Então, ela trouxe a bola, fiquei sentada sentindo a água escorrer nas minhas costas. Sensação gostosa. E acreditem, estava curtindo muito aquele momento. Ela colocou um cheirinho delicioso, Evaldo colocou a playlist que havíamos feito para aquele momento. Escolhi Gil e Caetano para relaxar. Thiago sugeriu que Evaldo e Mari dessem uma descansada, pois não saberíamos quanto tempo ficaríamos ali,que ele ficaria comigo. E eu concordei.
Enquanto estava me acompanhando, Thiago me lembrou que eu deveria tomar água e comer alguma coisa para repor minhas energias. Conversamos um pouco, depois fiquei de olhos fechados, sentindo as dores e pensando que estava chegando o momento de conhecer minha filha.
Depois de um tempo, resolvi ir para o quarto, as dores estavam mais fortes, Thiago perguntou se poderia fazer uma massagem, compressão do meu quadril, algumas gestantes sentem alivio. Mas comigo não funcionou. Doeu muito na horada compressão. Lembro que sentia muita vontade de ir ao banheiro, fazer xixi e cocô, mas não saía nada. Era só a sensação.
Quando estava clareando o dia, as dores aumentaram muito e pedi para Thiago me examinar. Como eu queria ouvir que eu estava com 10cm, mas não estava. Ele disse que eu ainda estava com 7 a 8cm de dilatação. Então, voltei pro chuveiro. Era o melhor lugar pra mim. As dores foram aumentado. Já não estava tão gostosinha como antes. Eu mudava de posição. Fiquei em pé, de joelhos, apoiada no anteparo do banheiro. Mari e Evaldo se revezavam comigo no banheiro. De repente, não lembro exatamente a hora, comecei a surtar. rsrs Fui para o quarto e comecei a sentir frio e vontade de vomitar. Não conseguia me erguer. Já era um alivio ficar inclinada. Fiquei de joelhos na cama, com os braços apoiados na cabeceira, mas as dores e o cansaço estavam muito fortes. Lembro que pedi para Evaldo desligar o som e pra Mari chamar Thiago. E ela falava para eu tentar me concentrar, respirar e tentar relaxar. Mas eu não conseguia. Não conseguia mais relaxar. Estava com muita dor e exausta. Não sabia se conseguiria parir.
Quando Thiago entrou no quarto, falei que não aguentava mais e pedi que ele fizesse alguma coisa. Ele olhou pra mim bem sério e disse: “O que você quer que eu faça? Você quer a cesárea? Lembra que eu falei que esse momento era muito difícil?! Lembra que conversamos sobre essa fase?! Mas é você quem decide!”
Sabe aquele tapa na sua cara? Era como se eu me perguntasse: você achava que não sentiria dor? Nesse momento, essa pergunta dele e o comentário sobre a fase do trabalho de parto que eu estava iniciando me fizeram pensar. Eu não queria cesárea! Queria parir. Me preparei psicologicamente e me informei muito para esse momento. Sabia que iria passar por esse processo. Então respondi que queria analgesia. Ele falou que pediria para prepararem o bloco e falar com a equipe.
Como já era por volta das 07h00, horário da troca de plantão no hospital, demoraram um bom tempo para me buscar. Esses minutos em espera foram uma eternidade. Mari me dando apoio. Evaldo me abraçava e falava que estava chegando a hora.
Quando cheguei ao bloco cirúrgico, Vivi (Dra. Viviane Pontes) me recebeu com aquele sorriso tão acolhedor. Eu já a conhecia, mas fazia muitos anos que não a via. Ela me perguntou se eu estava bem, e eu, desesperada, respondi que estava com muita dor e não aguentava mais. Ela segurou na minha mão e disse que já já, tudo iria melhorar. A anestesista, Dra. Suzana, veio se apresentar e explicou o que seria feito naquele momento. Que a analgesia iria aliviar a dor, mas que não tinha como eliminá-la totalmente, pois atrapalharia o trabalho de parto. Eu já sabia disso. Já havíamos conversado sobre a analgesia no pré-natal. Thiago me ajudou a deitar na maca e disse que precisaria me examinar. Falou: “Mila você está com 9 a 10cm de dilatação e seu tampão acabou de sair”. Isso mesmo, o tampão ainda não havia saído até aquele momento e a bolsa ainda não estourara.
Thiago ficou na minha frente e pediu que, quando a dor passasse, eu avisasse para Suzana iniciar a analgesia. Me apoiei nele e, quando diminuiu a dor, ela aplicou a analgesia. Morria de medo desse momento. De uma agulha perfurando minhas costas. Não pretendia tomar analgesia, mas preferi. Não aguentava mais. Mas não doeu. Senti apenas uma picada e uma pressão.
Depois, ele pediu para eu deitar e descansar um pouco. Dentro de alguns minutos comecei a sentir um alivio.
A neonatologista, Dra. Ana Karina, veio se apresentar. O Dr. Reginaldo não pode comparecer e ela o substituiu. Evaldo ficou segurando a minha mão enquanto eu descansava. As dores diminuíram consideravelmente. Depois de alguns minutos, comecei a sentir uma pressão. Thiago me examinou e disse que ela já estava bem perto de nascer. Perguntou onde eu gostaria de ficar. Escolhi a banqueta. Então fomos pra lá. Sentei – me na banqueta. Mari ficou atrás de mim. Evaldo na minha frente. Thiago e Vivi, cada um de um lado. Diminuíram as luzes, colocaram música, por sinal uma que eu adorava ouvir e sempre me emocionava, “9 meses”. Comecei a sentir uma pressão enorme, uma queimação. Comecei a achar que não conseguiria. Estava muito cansada. Thiago com espelho embaixo de mim, falou: “olha pra isso, Mila”. Eu parecia estar cega, ou sem acreditar no que via. Perguntei o que era aquilo. Ele respondeu: “É o cabelo de Clarinha. Ela já está ai”.
De repente, me deu uma vontade de fazer força, de gritar, meio instinto animal mesmo. Gritei, fiz força, não sei como ainda consegui, e mentalizei minha filha. Não sentia mais a dor, mais nada. O período expulsivo foi a experiência mais mágica que vivi. Mistura de dor, medo, euforia, amor… Hormônios bombando!! Ouvi alguém dizer: “ nasceu Clara! 9:07”. E quando olhei para baixo, estava a cabeça dela bem cabeludinha. Então fiz mais força, só queria que ela saísse toda, e ela saiu. Aquele chorinho estridente, que até hoje é assim. Rsrs Evaldo a pegou nos braços e eu como uma leoa, consegui rever na filmagem, cai em cima dela, a peguei e a abracei. Ela toda molhada e escorregadia, estava em meus braços, podia tocá-la. Que momento mágico!! O mundo parou naquele instante. Como se só existisse nós duas. Aqueles olhinhos me olhando, aquele cheiro delicioso que nunca irei esquecer. Levei -a para o peito, e ela sugava como se estivesse faminta, esperando também por aquele momento. Falei pra ela: “Bem vinda meu amor! Te amo filha!” Evaldo já estava atrás de mim, me abraçando e me falou: “nossa filha é perfeita! linda demais!” E ficamos ali babando nossa cria.
Depois de alguns instantes, senti a placenta cair. Sim, ela caiu! Cortei o cordão, e Clara continuou sugando. Depois Thiago veio falar que precisaria me examinar e Karina examinar Clara. Evaldo a acompanhou, e eu fui pra maca, ouvindo aquele chorinho estridente e forte, tão gostoso. Comigo estava tudo bem. Apesar do cansaço estava bem. Precisei levar alguns pontos, havia lacerado um pouco. Acho que o instinto animal foi meio violento. Rsrs. Mas tudo valeu a pena. Estávamos bem, eu e ela. Nem lembrava da dor de minutos antes. Então, fomos para o quarto, eu e ela!
Quero reforçar que senti muita dor, surtei, gritei, fui eu mesma. Cada parto é único, porque cada mulher é diferente. Mas tudo valeu à pena. Tudo! Informei-me sobre o processo, sabia o que iria enfrentar. Não tenho como mensurar, mas viver aquilo tudo fez parte do meu nascimento como mãe, de Evaldo como pai. Foi, sem duvidas, o momento da minha vida mais mágico, da minha transformação. Hoje não sou a mesma. A dor é apenas um detalhe, que precisamos passar. E passamos sim. Nosso corpo é perfeito, nosso bebê se desenvolve e sabe como sair de dentro de nós. E se caso houvesse algum imprevisto, algo que não fosse mais seguro para mim ou para ela, eu estava com uma equipe pronta pra agir. Não iriam fazer uma cesárea sem indicação. Isso eu tinha certeza!